sábado, 5 de abril de 2014

Em defesa do indefensável - ditadura militar - parte 1

     Como alguns de vocês sabem, essa semana que passou se comemora a Revolução de 64 (ou Golpe Militar). Há muita briga sobre esse tema e pouca discussão. As pessoas que atacam a ditadura (ou seja, a maioria dos intelectuais) a veem como um mal absoluto, o momento negro da história brasileira. As pessoas que defendem a ditadura desprezam as fatos negativos que ocorreram.
     Então estou aqui para apresentar alguns pontos, é claro que será de maneira tendenciosa - isso não significa que irei mentir.
     Defenderei a ditadura? Prefiro dizer que defendo a realidade dos fatos. Se houver dois caminhos: atacar a ditadura ou defendê-la, creio que eu me ajuste mais à defesa dela.
     Se você não parou de ler na frase acima, lembre-se de Nelson Rodrigues, "A unanimidade é burra". Tenho uma estranha tendência a nadar contra a correnteza. Quando a coletividade grita que X, como se fosse uma verdade inquestionável, então acho que há um burrice escondida.

Obs.: Título baseado na obra "Defendendo o indefensável", que não tem nada a ver com a ditadura militar. Mas é uma obra bem legal. Fica a dica.

Obs. 2: Vou postar mais postagens dos dias 6 ao 9

1. "A ditadura militar foi violenta e matou milhares de pessoas no Brasil"
     De fato, houve muita violência e mortes. Mas vamos começar primeiro com o número. Não morreram milhares de pessoas vítimas da ditadura. Oficialmente há quase trezentos mortos. Ora, Lucas, mas há pessoas desaparecidas que provavelmente morreram. Sim, atento/a leitor/a, e sabe qual o número de mortos segundo a oposição? Mil? Dois mil? Menos de quinhentas pessoas! Não, não foram menos de quinhentas mil. Foram menos de quinhentas!
     Uma vida é importante? Sim, com certeza. Não estou dizendo que morreram quinhentas pessoas, então tudo bem. Estou dizendo que não morreram tantas pessoas quanto os opositores fazem parecer. Para uma comparação acesse o link imediatamente abaixo.
      25 anos - 500 pessoas. Para ver comparações com outros eventos, acesse: http://copaziodesaber.blogspot.com.br/2014/02/estatisticas-de-mortos-em-diversos.html
     E quanto à violência? A ditadura foi violenta. Depende do que você considera violento, ou se você acha que há violência legítima.
     Vê-se pelo número de mortos que a violência não foi uma carnificina de proporções dantescas, um holocausto. Foi violento? Sim foi. Mas nem tanto quanto se parece ter sido pelos comentários. Tem um caso bastante interessante ilustrado no livro "1968, o ano que não terminou" - capítulo "Entre a cruz e a espada". Houve uma missa para um dos mortos da ditadura. Os militares sabiam que haveria uma grande aglomeração e foram lá para impedirem que a situação fugisse do controle - eles intimidavam as pessoas pela mera presença. Estava um clima muito tenso, mas entende-se que os militares NÃO QUERIAM sangue. Eles estavam lá por dever de manter a ordem, não por serem homens sádicos que queriam bater nas pessoas. Tanto que embora nervosos e preparados para a briga, não houve conflito nesse momento. Houve até uma ação dos padres para isso, muito bonito. Vale a pena ler. O que importa é que os militares não saíram distribuindo porrada, eles temiam que tivessem de fazê-lo.
      Enfatizo para quem já esqueceu: Foi violento! Mas não foi tão violento.

     A ditadura queria uma ordem, uma paz. Isso não a impedia de ser violenta caso achasse necessário. Mas o fato é que a ditadura não saiu caçando comunistas pelo mero fato de serem comunistas. É claro que pode haver exceções, mas a ditadura se preocupava mais com os comunistas violentos.
     Parte da direita atual diz que tanto isso é verdade que a esquerda não violenta fugiu para os espaços acadêmicos, deixando um pensamento que se mantém até hoje, mas não é assunto para esse post.

Fontes:
  http://www.averdadesufocada.com/index.php/textos-de-terceiros-site-34/201-2911-os-mortos-da-ditadura-mito-e-realidade
 "1968, o ano que não terminou"


Tenham uma boa noite,
E viva à Revolução de 64!
(coloquei isso só para provocar)

8 comentários:

  1. Em primeiro lugar, parabéns pela coragem de postar um texto deste teor!

    Não concordo com a análise, pois, os números de mortes são controversos, pois não se pode saber com precisão, quantos morreram ou desapareceram, pois os dados estavam sob a tutela das Forças Armadas.
    Veja esta matéria: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/58032-lista-oficial-de-mortos-pela-ditadura-pode-ser-ampliada.shtml

    É certo que isto não é uma realidade apenas da Ditadura, pois em muitas situações apenas se estima o número de mortos/desaparecidos.

    No entanto, independentemente da quantidade de vidas perdidas, houve compressão do exercício de direitos fundamentais, principalmente a liberdade. Isto já é motivo para se abominar o ocorrido e não partir para a relativização das vidas. Foi um período que, além da imposição da ordem, não se permitiu expressão contrária.

    Entendo que não está relativizando, foi claro neste sentido, mas tenho a convicção de que a violência não se resume a vidas perdidas. A tortura, a repressão, e a sensação de medo, ao meu ver, já se configura violência, e isto não pode ser deixado de lado.

    Mais uma vez, parabéns pela coragem! Espero os próximos posts!


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    1. Obrigado pelo comentário.
      Sobre o número de mortes, no link que eu coloquei como fonte indico que oficialmente há quase 300. O número certamente é maior. Então o autor do link cita que mesmo a oposição coloca quase 500 extraoficialmente. O link que você aponta 1.000 ao todo (sem contar os índios). Não se você viu, mas olhe o link de minha outra postagem que coloquei no parágrafo que começa com "25 anos ..."

      Concordo que os elementos que você indicou (tortura, repressão e sensação de medo) constituem violência. Mas felizmente ou não não podemos medir esses indicadores. Daí minha ênfase no número de mortos. Vejamos mesmo nos outros regimes militares que ocorreram na América Latina no período e vamos ver uma proporção muito grande de mortos por habitantes. A ditadura aqui poderia ter sido muito, muito pior.
      Se você se interessar, leia o capítulo que eu indiquei no livro "1968, o ano que não terminou". Acho que tem em pdf se você procurar no Google.

      Obrigado pelo elogio. Mas não foi fácil aceitar a ideia de postar esse conteúdo.

      Obrigado também pelo apoio, é bom saber que há pessoas que não vão tornar a discussão um tabu. Mesmo que não concorde com minhas ideias, espero profundamente que o conteúdo aqui o enriqueça de alguma forma. Quando concordo com a frase de Nelson Rodrigues, não quero dizer que todas as pessoas que têm um mesmo pensamento são burras, mas há uma massa que recebe passivamente o conteúdo. O que quero é que mesmo discordando profundamente de mim tenha um pensamento crítico de suas próprias ideias.

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    2. De fato, os números são controversos, e aceito a comparação dos números com as ditaduras dos países latinos no mesmo período, ainda que continue defendendo que esta análise é insuficiente, pois deveríamos nos debruçar sobre a análise mais profunda do contexto local que se deram e se desdobraram, dado que o contexto internacional é semelhante em muitos pontos.

      Concordo com você, que em muitos assunto, e principalmente neste, há uma massa que repete um discurso sem problematizá-lo. Sei que a violência não foi unilateral, dos movimentos contrários, certamente houve violência. Qualquer generalização, ampliadora ou redutora, empobrece e simplifica um tema tão complexo, e por isso, digo que tenho uma posição crítica sobre o discurso que defendo.

      Pelo que pude perceber, a primeira postagem é um dado que será contrabalanceado com outros. Espero os próximos, como forma de ampliar o debate e, como disse, possamos nos enriquecer com os pensamentos divergentes.

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    3. Na verdade, o que eu iria falar sobre violência praticamente se esgota aqui. Nos outros eu talvez apenas tangencie o tema. Caso queria que eu me aprofunde em algum aspecto ou que eu fale sobre algum tema específico, me avise. Talvez não consiga nessa semana, mas já terei um assunto me direcionando.

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    4. Na verdade, tinha pensado que ia contrapor o fato de defender que "houve violência, mas não tanta violência", em face do crescimento econômico ou outros aspectos que ocorreram durante a ditadura. Mas sinta-se a vontade para escrever sobre quaisquer assuntos, gosto muito dos seus textos e de poder dialogar num ambiente de respeito!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Bom dia, Lucas.

    Não compreendi muito bem o motivo de sua defesa à ditadura. Foi pela ''ordem'' mantida? Que autoridade tinham essas pessoas para impor a todos o que eles acreditavam ser ordem? Lógico que o meio encontrado foi a violência, pois como argumentar para defender o indefensável? Perceba que o que você está fazendo, nenhum deles se predispos a fazer! ''Não me questione! Ou você morre.'' E ainda, sim, você os defende? Não entendo.

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  4. Bom dia, caro leitor (ou cara leitora)
    Acho que há pontos favoráveis à ditadura que não são considerados nas discussões. Não é por o regime ter cometido grandes arbitrariedades e violências que ele deve ser demonizado em todos os seus aspectos. Não é por seus problemas que se pode dizer qualquer coisa negativa sobre ele. Inicialmente, parte da população desejava um regime militar, contudo o regime se revelou pior do que uma grande parcela imaginou, então essa legitimidade foi se perdendo com o tempo. A violência é o último meio para um governo se impor, mesmo com os excessos, é certo que a violência seria menor se não houvessem atentados terroristas por grupos comunistas radicais.
    Como espero ter deixado transparecer, não aprovo tudo o que foi feito. Mas sim eu os defendo. A questão é: eu os defendo de que ataques? Procuro defender a ditadura dos ataques que creio serem injustos e exagerados, ou pelo menos explicar melhor a situação em alguns aspectos.
    Talvez minha mais forte motivação seja uma crença de que na época havia um risco de um golpe militar comunista, e entre o golpe como tivemos e um golpe comunista, prefiro muito mais o que tivemos. Contudo, mesmo que o golpe comunista não fosse real, ainda assim poderia defender a ditadura de ataques que considero exagerados e injustificados.
    Obrigado pelo comentário.

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